quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ser ou não ser?

As vezes acabo presenciando cenas que me levam a pensar (e até falar. Com o Ricardo, claro - coitado -rs) em como algumas pessoas que não tem filhos falam dos filhos das outras com propriedade (como se entendessem bem do que falam). Ainda ontem confessei ao Ricardo: sabe, eu fazia isso. Antes de ser mãe eu não falava diretamente para a mãe ou o pai, mas pensava e falava para qualquer outra pessoa: ai, por que eles não fazem isso ou aquilo, por que não pegam assim ou assado...ahahahaha. Acontece que aquele velho ditado, pimenta nos outros é refresco, se encaixa direitinho aqui. Quando o bicho pega mesmo, não são estas pessoas cheias de opiniões, certezas (sim, claro, certezas) e idéias quem vão resolver "seus problemas" e sim, você mesmo. Sim, você, mãe ou pai ou os dois juntos. Mas é para o responsável que sobra. Sempre. Então, ora, quem sabe o que deve ser feito com a criança é o responsável por ela já que, se der errado, o responsável perceberá que agiu mal. E assim se educa. Não é só o adulto que educa a criança. A recíproca também é verdadeira. E muito. Nenhuma mulher (ou homem) nasce sabendo educar um filho. Nem pedagogo aprende isso. Pedagogo aprende a educar a criança dos outros, mas na hora de educar as próprias, acabam tendo os mesmo tropeços do que qualquer outro profissional que se dispõe a aventurar-se na vida com filhos. Isso se chama maternidade, paternidade, família...E só quem sabe o que é isso é quem tem isso. E ainda acho que nem todos homens e mulheres do mundo precisam disso para ser feliz. Tem gente que é muito feliz sem filhos e ponto. Ah! E seriam mais felizes se parassem de se preocupar com o problema dos outros e fossem fazer algo que julgam melhor (ou mais interessante). Para escolhermos termos ou não filhos devemos pensar que assim como ser mãe (ou pai) é para sempre, o NÃO ser (mãe ou pai) também é para sempre. E se optamos pela sefunda opção, temos que arcar com as responsabilidades (e pressões) que a dicisão envolve.
Encontrei um texto da jornalista Martha Medeiros que fala disso bem.
"Semana passada me telefonaram de um jornal para pedir um depoimento sobre mulheres que decidiram não ter filhos. Queriam um testemunho curto e rápido. Sobre um tema tão intenso? Fui curta e rápida, mas agora vou me estender. Tenho duas filhas planejadas e amadas, que nunca me provocaram um segundo sequer de arrependimento. Mas nunca fui obcecada pela maternidade. Acredito que qualquer mulher pode ser feliz sem ser mãe. Existem diversas outras vias para distribuirmos nosso afeto, diversos outros interesses que preenchem uma vida: amigos, trabalho, paixões, viagens, literatura, música - até solidão, se me permitem a heresia. Conheço mulheres que se sentem íntegras e felizes sem ter tido filhos, e mulheres rabugentas que tiveram não sei por quê, já que só reclamam. Há de tudo nesta vida. Mas tenho pensado nesta questão porque, dia desses, uma amiga inteligente, realizada e linda completou 50 anos e se revelou meio abatida por certos questionamentos que chegaram com a idade - uma idade que está longe de ser das trevas, mas que é emblemática, não se pode negar. Ela nunca quis ter filhos. Escolha não, impossibilidade. Tem uma vida de sonho, mas ela anda se perguntando: não tive filhos, será que fiz bem? Ninguém tem a resposta. Mas é fácil compreender o dilema. Quando entramos nos 30, o relógio biológico exige uma decisão: ter ou não? Algumas resolvem: não. Criança dá trabalho, criança demanda muita atenção, criança é dependente, criança interfere no relacionamento do casal, criança dá despesa, criança é pra sempre. Tudo verdade, a não ser por um detalhe: crianças crescem. Crianças se transformam em adultos companheiros, crianças são quase sempre nossa versão melhorada, crianças herdarão não apenas nossos anéis, mas nossos genes, nosso jeito, nossa história, e isso é explosivo, intenso, diabólico, fenomenal. Aos 30, só pensamos na perda da liberdade, mas, aos 50, conseguimos finalmente entender que a maternidade é muito mais do que abnegação, é uma aposta no futuro. Depois dos anos palpitantes e frenéticos da juventude, chega uma hora em que deixamos de pensar apenas no lado prático da vida para valorizar as conquistas emocionais, que são as que verdadeiramente nos identificam. Não estou fazendo apologia da maternidade, sigo acreditando que todas as escolhas são legítimas. Mas optar por não ter filhos não é algo trivial. É uma experiência profunda de que abriremos mão de vivenciar. É uma emoção que transferiremos para sobrinhos sem jamais saber como seria se eles fossem gerados por nós - ou adotados, o que dá no mesmo. Vale a pena desprezar este investimento de amor? Um investimento que, diga-se, é uma pedreira muitas vezes, não é nenhum mar de rosas! Nessas horas é que faz falta uma bola de cristal. O problema é se a dúvida vier nos atazanar mais adiante. A gente nunca sabe como teria sido se... É por isso que, neste caso, compensa queimar bastante os neurônios antes de decidir. Não dá para pensar no assunto levando-se em conta apenas o momento que se está passando, mas o contexto geral de uma vida. Porque não ser mãe também é para sempre."
(texto de Martha Medeiros, publicado no jornal o globo de 08/maio de 2005)

Um comentário:

  1. Eu acho que escolhemos ser mães todos os dias. Mães dos nossos filhos ou simplesmente mãe de nós mesmos, pois precisamos nos tratar com amor e respeito. Também podemos ser mãe dos outros, dando atenção, carinho, uma palavra amiga, um sorriso bonito. Um beijo, Ivy

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